Cientistas Criam Algoritmo para Caçar Tumores Mais Tratáveis
Pesquisadores da Universidade de Cambridge desenvolveram um algoritmo inovador que funciona como um verdadeiro “detector de metais” para identificar tumores cancerígenos com maior chance de sucesso no tratamento. A ferramenta foi descrita em um estudo publicado na revista Nature Genetics e representa um avanço significativo na medicina personalizada, especialmente no combate a tipos de câncer com baixa taxa de sobrevivência.
Utilizando dados genéticos de milhares de pacientes, os cientistas criaram um sistema que pode, no futuro, revolucionar a forma como os tumores são diagnosticados e tratados, tornando a escolha da terapia muito mais precisa e eficaz.
Uma ferramenta que “fareja” falhas no DNA
O algoritmo recebeu o nome de PRRDetect, e sua função principal é identificar tumores com falhas específicas nos mecanismos de reparo do DNA, tornando-os mais vulneráveis a determinados tipos de tratamento, como a imunoterapia.
Segundo a professora Serena Nik-Zainal, do Instituto do Câncer Precoce da Universidade de Cambridge e principal autora do estudo, “o sequenciamento genômico agora é muito mais rápido e barato do que nunca. Estamos nos aproximando do ponto em que sequenciar seu tumor será tão rotineiro quanto um exame de imagem ou de sangue.”
Esse avanço se baseia em uma análise cuidadosa de 4.775 tumores pertencentes a sete tipos de câncer diferentes. O estudo foi possível graças ao acesso ao banco de dados do Projeto 100.000 Genomas, iniciativa liderada pela Genomics England e pelo NHS England, que sequenciou o genoma de cerca de 85 mil pacientes britânicos.
Como funciona o PRRDetect?
A ferramenta foi construída para identificar padrões genéticos incomuns, causados por mutações do tipo “indel” — pequenas inserções ou deleções de letras na sequência do DNA. Esses padrões são característicos de tumores que sofrem de “disfunção de reparo pós-replicativo” (PRRd), ou seja, tumores cujas células apresentam falhas ao tentar corrigir erros que ocorrem durante a replicação do DNA.
Essa falha pode tornar os tumores mais suscetíveis ao ataque do sistema imunológico, o que significa que pacientes com esses perfis genéticos específicos podem responder melhor à imunoterapia, uma modalidade de tratamento que vem crescendo nos últimos anos.
De forma simplificada, o PRRDetect funciona como um detector de anomalias genéticas. Assim como um detector de metais capta variações no campo magnético para encontrar objetos escondidos, o algoritmo reconhece sinais genéticos sutis que revelam tumores mais vulneráveis e potencialmente mais tratáveis.
Cânceres analisados e novos padrões genéticos
A equipe liderada por Nik-Zainal concentrou-se em cânceres com maior proporção de tumores PRRd. Entre eles estão os cânceres de intestino, cérebro, endométrio, pele, pulmão, bexiga e estômago. O estudo revelou 37 padrões distintos de mutações indel, sendo que:
10 padrões já estavam associados a causas conhecidas de câncer, como tabagismo e exposição à luz UV;
8 padrões estavam claramente ligados à disfunção PRRd;
19 padrões eram totalmente novos, sem causa ainda conhecida, mas possivelmente relacionados a falhas celulares internas que levam ao desenvolvimento do câncer.
Essas descobertas são consideradas um marco por trazerem novos caminhos para entender a origem e evolução dos tumores, além de permitir que tratamentos sejam melhor direcionados.
Apoio de grandes instituições e financiamento
A pesquisa contou com o financiamento da Cancer Research UK e do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Cuidados (NIHR). O estudo representa também uma continuidade do trabalho da professora Nik-Zainal, que anteriormente já havia liderado uma espécie de “escavação arqueológica genômica” ao analisar milhares de genomas cancerígenos em busca de padrões ocultos de mutação.
O diretor científico da Genomics England, professor Matt Brown, destacou a importância da genômica na transformação da medicina moderna:
“Essas descobertas mostram como os dados genômicos podem ser usados para impulsionar cuidados mais preditivos e preventivos, levando a melhores resultados para pacientes com câncer.”
Impacto no futuro do tratamento
De acordo com o Dr. Iain Foulkes, diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Cancer Research UK:
“Ferramentas como o PRRDetect tornarão o tratamento personalizado do câncer uma realidade para muitos mais pacientes no futuro. A personalização do tratamento tem muito mais chances de sucesso.”
Já o diretor científico do NIHR, Mike Lewis, reforçou o impacto social da inovação:
“O câncer é uma das principais causas de morte no Reino Unido, então é impressionante ver nossa pesquisa levar à criação de uma ferramenta que pode determinar qual terapia levará a uma maior probabilidade de sucesso.”
Com esses avanços, os cientistas acreditam que a leitura completa do DNA tumoral se tornará rotina clínica, permitindo diagnósticos mais precisos e terapias mais eficazes, adaptadas ao perfil genético de cada tumor.
A promessa de um hospital modelo
Como parte dos esforços para transformar o tratamento do câncer, a Universidade de Cambridge também está arrecadando fundos para construir um novo hospital voltado para diagnóstico e tratamento oncológico de alta precisão. O objetivo é integrar tecnologia genômica, inteligência artificial e medicina personalizada em um só centro de excelência, beneficiando milhares de pacientes.
Conclusão: um novo capítulo na luta contra o câncer
A criação do PRRDetect marca o início de um novo capítulo na medicina de precisão. Ao combinar tecnologia de análise genômica com algoritmos sofisticados, os cientistas estão cada vez mais próximos de oferecer tratamentos sob medida para cada paciente com câncer.
A comparação com um detector de metais não é apenas metafórica, mas sim simbólica de como uma ferramenta inteligente pode “farejar” o que está escondido — neste caso, vulnerabilidades em tumores que podem fazer toda a diferença entre um tratamento bem-sucedido e um fracasso terapêutico.
Com o avanço dessa tecnologia, o futuro do tratamento do câncer parece mais promissor, humano e eficaz do que nunca.
Fontes desse artigo:
https://www.olhardigital.com.br, https://www.maisconhecer.com